domingo, 23 de dezembro de 2007

Menos um grama de sal por dia salvaria 2640 vidas por ano

Se cada português ingerisse menos um grama de sal por dia poderiam evitar-se 2640 mortes por ano. E se a redução chegar aos quatro gramas diárias, poderiam poupar-se sete mil vidas num ano.


O cálculo consta de um estudo da Universidade Fernando Pessoa, que coloca Portugal no topo da tabela dos países europeus em que é maior a relação entre a mortalidade por acidente vascular cerebral e a ingestão média diária de sal. Uma situação que não é fruto do acaso, mas que está relacionada com os níveis de consumo de sal em Portugal, que estão acima de doze países europeus analisados. Os portugueses ingerem, em média, 12 gramas por dia - o dobro da dose recomendada pela Organização Mundial de Saúde.


Um dos principais alimentos responsáveis por essa diferença é o pão, justamente um dos mais incontornáveis na alimentação diária da população nacional. Um pão português dito normal (sem ser integral) tem em média entre 19 a 21 gramas de sal por cada quilo, ou seja, cada vez que um português consome um pão, ingere entre 1,3 a 2 vezes mais sal que alguns dos seus vizinhos europeus. Um dos pães mais consumidos em Portugal, o "trigo molete", apresenta mesmo níveis exagerados de 25 gramas por cada quilo.


Porque estudos recentes demonstram que uma redução significativa de 25 a 35% do sal na alimentação pode reduzir em um quarto o risco de doença cardiovascular e a mortalidade em 20%, a Sociedade Portuguesa de Hipertensão está empenhada em alertar a opinião pública.
E porque o pão é um alimento central para os portugueses, o estudo "Sal no Pão" analisou 40 tipos de pão, recolhidos em dez padarias portuguesas. Para surpresa de muitos, até o chamado pão "sem sal" tem, ainda assim, mais de seis gramas de sal por cada quilo. E o pão integral apresenta quase 15 gramas por cada quilo. A situação complica-se quando pensamos que se ingerirmos três pães sem sal por dia ou dois pães do tipo integral, somados à restante alimentação já estamos a exceder o consumo médio diário de sal recomendado pela OMS."A dependência do sal é uma das piores toxicodependências dos portugueses", considera o presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão. Luís Martins esclarece que o toxicidade se deve aos malefícios para a saúde e que a dependência é relativa à perda de sensibilidade no paladar para o teor de sal.Por isso, Luís Martins sublinha que "é urgente reduzir o consumo de sal, através de um alerta de saúde pública com o objectivo de prevenir o desenvolvimento da doença hipertensiva e outras patologias. Uma medida relevante seria a criação de "um pão do coração", sem sal. Mas também um maior controlo das padarias e rotulagem sobre os teores de sal nos alimentos. E, claro, uma alteração da cultura gastronómica.




Fonte: Diário de Notícias, Novembro de 2007.

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